21.8.09

Entrevista Axezeiro

Valeria Kaveski - Estilista


Muita gente vê o figurino de artistas como Daniela Mercury, Carlinhos Brown, Amanda Santiago, Timbalada, Margareth Menezes, Netinho, Fred Moura [banda Voa Dois], e se pergunta de onde vem tanta criatividade visual. Muitos dos looks que estes artistas apresentaram são frutos da criatividade de Valeria Kaveski.
Agora a marca da estilista chama-se KAVESKI. Experiências anteriores (a fase Soudam & Kaveski foi uma delas) servem como referência, mas já não definem o perfil de Valéria. Atenta e aberta às mudanças, a estilista aposta no novo e imprime esse conceito em cada peça que produz. De onde vem a inspiração? Da rua, dos sonhos, das imagens e acima de tudo da arte. Valéria é uma artista. Passagens pelo teatro, como atriz, e uma fina sintonia com o mundo da música, a fazem instrumento e intérprete.
Em um bate papo com a repórter Alice Britto, a estista fala de seu interesse por moda, dos artistas, dos figurinos para o carnaval, entre outros.

Axezeiro:Como surgiu seu interesse pela moda?
Valéria: Não posso dizer que fui atriz, por que uma vez atriz, para sempre atriz. Não estou atuando e nem tenho planos. Mas foi o teatro que me deu régua e compasso, como diria Gilberto Gil. Foi no palco que abri os olhos para o estilismo e talvez por isso, eu tenha uma forte ligação com a cena. Meu olhar é artístico. Sou capaz, porque sou profissional, mas para mim, é mais complexo fazer algo sem esta atmosfera lúdica, fazer uma roupa apenas “usável”.

Axezeiro:A maior parte do universo da moda prefere se concentrar em São Paulo, como uma estilista paulista veio parar em Salvador?
Valéria:Por acreditar no novo. A Bahia me chamou. Foi esta cidade linda que me seduziu e aqui, encontrei meu lugar. Sou daqui, sou de São Paulo, sou do mundo. Mas foi na Bahia que encontrei minha fonte. Meu trabalho em dupla foi maravilhoso, trago ele nos meus registros, e foi através dele que a Bahia fluiu em cada peça produzida. Se fosse para recomeçar e tendo que escolher um local para isso, escolheria a Bahia. Adoro isso aqui!

Axezeiro:Carlinhos Brown é um ícone da criatividade, como vocês idealizam toda a informação visual dele?
Valéria:Não é a toa que ele é “O Cacique”, né [risos]. Carlinhos é uma fonte inesgotável de inspiração. Criar para ele é um desafio e um enorme prazer. Ele me dá material de sobra para viajar. E, assim como eu, aposta na novidade, gosta de movimento. Ele adora moda com conceito e isso já é meio caminho andado. Ai a inspiração vem fácil. O resto, meu bem, é transpiração, mesmo. Horas de trabalho que incluem pesquisa, testes, afinação, análise... É como fazer um show. Exige muito do profissional, dá um enorme prazer, mas quando termina, a gente sempre acha que poderia ter feito melhor. Graças a Deus tem outro “show” para que a gente possa ir “em busca da partida perfeita”.

Axezeiro:A loja multimarcas LaiaLaiá Prappô, que é um projeto seu e de Brown, traz peças suas? Quais as multimarcas que vocês escolheram?
Valéria:Ótimo que você tenha feito essa pergunta. Esclarecendo: a loja Laia Laia Prappo, não é minha e nem é de Brown. Os proprietários são Andrea Motta e João Gonçalves. Brown abriu espaço para eles no Sarau e me convidou para ser a Curadora. Sou eu a responsável pela forma com que as roupas serão mostradas. Entro com uma peça ou outra e alguns acessórios. Escolho modelos, dirijo maquiadores e cabeleireiros...enfim, coordeno o desfile como um todo. Mas minha coleção não está nesta mostra. Se fosse um show, eu seria a diretora musical, poderia ter uma música ou outra minha, mas o show seria de outra pessoa. No caso são eles [Andréa e....] que são super competentes e estão fazendo um ótimo trabalho como proprietários de loja multimarcas.

Axezeiro:Com a crescente preocupação com o meio ambiente, você dá preferência a materiais reciclados, pensa em fazer projetos de moda ecológica?
Valéria:Incluo este conceito nas minhas peças, mas não é uma bandeira minha. É uma preocupação, um cuidado que acho que deveria estar na proposta de qualquer profissional, independente dele fazer moda, publicidade ou direito.
A reciclagem oferece materiais maravilhosos para a produção de moda, o bacana é ter olhar para casar isto com materiais industrializados. Isso valoriza a criação e é uma ferramenta positiva para a preservação na natureza. Mas na verdade essa defesa ecológica vem em todo tempo, ainda que a peça não seja identificada, no primeiro momento, com sendo uma peça “ecologicamente correta”.

Axezeiro:No Espaço cultural no Museu Du Ritmo você apresentou um desfile, como curadora e seus projetos sempre agregam materiais reutilizáveis, como lacres de lata, etc. Como a moda pode transferir o uso destes materiais para o dia a dia das pessoas comuns?
Valéria:Pode até parecer, mas não é fácil equilibrar esses materiais dentro de uma peça. Se não tiver know-how, o resultado pode não ser dos melhores. Quando produzo utilizando materiais recicláveis, é porque fiz as pesquisas e os testes que comentei. Acho o máximo que esse interesse comece a despertar mais pessoas. Esse é o caminho, mas bom gosto, apuro técnico e coerência são sempre bem vindos.

Axezeiro:Quais os músicos que você vai vestir este carnaval?
Valéria:Nossa...é uma galera [risos]. Carlinhos Brown (com toda a banda) e todos os projetos feitos por ele, a exemplo do grupo ZARABE; Amanda Santiago, Fred Moura, da banda Voa Dois; Netinho e banda; a banda Bué da Fixe. Recentemente fiz o figurino do espetáculo Três Caras Cantam Carmen Miranda que já soube que vai estar no Carnaval com o mesmo look...e algumas surpresas.

Axezeiro:Você desenhou um modelo de abada, há dois anos, pretende repetir a experiência?
Valéria:Ainda ninguém me procurou, mas se rolar está feito o desafio. Nesse momento estou focada na criação de looks de artistas e meu ateliê atende a qualquer pessoa. Não sou exclusiva de cantores. Sou exclusiva para quem tem bom gosto, digamos [risos].

Axezeiro:O que você acha do visual dos artistas baianos no carnaval? E do design dos abadás?
Valéria:Começando pelo a abada. Acho que tem muita gente fazendo coisas legais. Mas penso que falta ousadia e inventividade.O que eu mudaria seria o tecido, com menos poliéster e mais poliamida. Da mesma forma, as camisetas de camarotes. Há uma infinidade de idéias que podem ser aplicadas, mas não há muito interesse...Aqui na Bahia tem uma coisa engraçada...alguém precisa virar a mesa...ai vão todos atrás [risos]. Ano que vem vou aprontar alguma, só para virar esta mesa que falei...
Quanto aos artistas...a história é longa. Penso que o que falta, às vezes, é apenas o olhar de um profissional que tenha a visão de palco. Tem que gaste uma fortuna com um roupa porque ela tem a assinatura de um poderoso da moda no mundo. Mas quando essa roupa vai para o palco, não rola, não fez efeito algum. Ai você compra um tecido em qualquer boa loja de Salvador, pensa em alguns matérias de finalização e cria uma peça original, de ótimo preço e com a cara da música que faz na Bahia, e o artista dá show de visual. Acredito que se possa fazer uma moda de ótimo nível com tudo daqui, tecidos, costureiras, estilistas... Caso contrário, já estaria em outras terras, não é mesmo?

Fonte:
http://www.axezeiro.com/entrevista/55.html